13/04/2009

Sexta cinza e santa

A alma, como papel, se desfaz.
Dissolve-se em pequenas
fatias de cinza
- Em uma cinza sexta santa.


Ao largo, toda alegria
espreita a melancolia
- À revelia da alma fria
que assa
Sua sombra sombria na ausência do sol.

Taciturno, passa o dia que não houve dia, senão
Trevas.

Nestes dias sem sol
a solidão assola.

Triturei-me as carnes da alma,
em um moedor
Metafísico de carnes e almas.

06/04/2009

Das dobras e das obras

Os tempos dobram
Como dobram as dobras da moça,
As dobras das ondas,
As dobras das obras,
E todas as dobras
Que dobram todas as coisas.


Os espaços dobram,
Como dobram as dobras dos quadrículos,
As dobras das sobras,
Que se dobram
E se redobram.

As obras dobram,
E dobram as possibilidades
De novas dobras,
Infinitas dobras,
Dobras sobre dobras
Que multiplicam as sobras
Que já inteiras
Nunca
Hão
De
Faltar às curvas.

Obra sobre obra, dobra sobre dobra:
O dobro do que sobra vezes o dobro do que falta:
Nada falta, nada sobra:
Dobra sobre dobra
Obra sobre obra.

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* Desenho de Iara Sales.
** Acesse o Flickr de Iara Sales:
http://www.flickr.com/photos/iarasales

Mais-além, ainda



“Toda palavra tem sempre um mais-além,
sustenta muitas funções
envolve muitos sentidos
Atrás do que diz um discurso,
há o que ele quer dizer e,
Atrás do que quer dizer,
há ainda um outro querer dizer,
e nada será nunca esgotado.”
_________________________

* Texto: Lacan.

** Vídeo-clipe: Explosion in the Sky - A Song for our Fathers.

*** Este post foi inspirado no texto de Ordep Inácio p/ o blog Acerto de Contas - clique no link abaixo p/ ler o texto:
"Não-só, mais-ainda!"

02/04/2009

Papillon D'Amour



Vídeo: Papillon D'Amour
- Nicolas Provost, 2003

Fragmentos de um filme de Kurosawa no reflexo de um espelho. Faz uso do material original com as imagens espelhadas num eixo longitudinal, o qual produz uma sequência de novas e associativas imagens.

As personagens são transformadas em novas formas de vida com capacidades miraculosas que desafiam as leis da gravidade.

O impulso do espectador para interpretar a nova representação como uma história é encorajado pela manutenção sutil de resíduos da narrativa de Kurosawa. A música é da autoria de Autechre.