28/06/2009

Momento num Café - Manuel Bandeira

Momento num Café

Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes da vida.

Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.

Manuel Bandeira

27/06/2009

Em breve: 109 anos da morte de Nietzsche

Depois da Lei contra o Cristianismo, este ano é a vez de O Martelo Falar:

“O Martelo Fala”
Friedrich Nietzsche

– Por que és tão duro? – perguntou certa vez o carvão ao diamante. – Acaso não somos parentes próximos?!
– Porque sois tão moles? Ó meus irmãos, assim eu vos pergunto: Acaso não sois vós meus irmãos? Porque tão moles, tão retraídos e abatidos? E porque tanta negação e abnegação em vossos corações? Tão pouco destino de vossos olhares?
E se vós não quereis ser destino e inexoráveis, como podereis vencer comigo?
E se vossa dureza não quer brilhar, cortar e fender, como podereis criar comigo?
Pois os modeladores são duros.
E dever-vos-ia parecer ventura colocar vossas mãos sobre milênios, como sobre a cera mole.
Ventura escrever sobre a vontade de milênios como sobre bronze – mais duros que o bronze, mais nobres que o bronze.
Apenas o mais nobre é totalmente duro.
Eu vos trago, meus irmãos, um novo mandamento: tornai-vos duros!

Assim falou Zaratustra

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* Pedaço de Crepúsculo dos ídolos.

Curta o curta aí: O Palhaço Degolado


O Palhaço Degolado
é um filme de Jomard Muniz de Britto e Carlos Cordeiro, produzido em 1977. Quem me indicou o vídeo foi meu amigo historiador e poeta Dimas Veras.

Achei agora no blog Pernambuco em Curtas um texto sobre o filme. Foi escrito por Carolina Vasconcelos, e está logo abaixo.

O Palhaço Degolado: uma sátira a seu modo
Por Carolina Vasconcelos

O filme de Jomard Muniz de Britto e Carlos Cordeiro, produzido em 1977, está inserido no Ciclo do Super 8, que configurou uma nova fase da vida cultural de Pernambuco. Surgido nos anos 40, não foi considerado um movimento, pois não havia proposta ideológica e tampouco uma conformidade temática naquilo que era realizado. Adeptos da corrente experimentalista, a qual propôs uma antropofagia crítica, Jomard e Carlos Cordeiro utilizaram um poema de Wilson Araújo de Souza para homenagear, de forma satírica, o sociólogo Gilberto Freyre e o escritor Ariano Suassuna. Atacando as idéias conservadoras dessas personalidades, os cineastas realizaram um dos filmes mais ousados e críticos do Ciclo do Super 8.

Jomard Muniz de Britto mesmo afirma: “Todo meu esforço sempre foi e continua sendo o de estar sintonizado com as linguagens contemporâneas. Sempre em busca da mais crítica e poética modernidade. Com e sem vaidades. Com e sem apelo às modas. Astuciosamente”. E é dessa forma que o curta de 1977 se faz notável dentro do ciclo, continua despertando interesse e chamando a atenção trinta anos depois, apesar de tratar-se de uma produção simples, com o mínimo de recursos financeiros. Os diretores tinham em mãos apenas a modernidade que a câmera super 8 representava na época.

O Palhaço Degolado é encenado na antiga Casa de Detenção (que hoje é a Casa da Cultura). Nesta, o palhaço chama repetidas vezes pelo “Mestre Gilberto Freyre” e clama pela sua Casa Grande e pela Senzala. Estes elementos estão sugestivamente relacionados à Casa de Detenção, que é para ele a casa de detenção da cultura. As críticas ao autor de “Sobrados e Mucambos” supostamente se relacionam com as suas atitudes paradoxais: em “O Mundo que o Português Criou” e “Aventura e Rotina”, Gilberto Freyre demonstrou tendências colonialistas portuguesas na África, além de ter apoiado o regime militar instaurado em 1964. Em contrapartida, fez um excelente estudo da sociedade brasileira, denunciando seus vícios e costumes. Um mestre “muito bem situado nos trópicos: tristes trópicos”.

Jomard e Carlos Cordeiro ainda criticam o envolvimento entre política e tecnocracia, o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, o desenvolvimentismo e afirmam as raízes da cultura como sendo um complexo de intelectuais. O palhaço exige em alto e bom som: abaixo o imperialismo cultural, a cultura amordaçada! Os nordestinos são chamados de nordestinados: destinados às Vidas Secas de Graciliano Ramos. Até José Lins do Rego é ponto de partida para os questionamentos sobre os meninos de engenho e a bagaceira. É o sinal de que a crítica está fazendo cobranças.

O “Mestre Ariano Suassuna”, ou mestre armorial, também é alvo das ferrenhas críticas do palhaço. O movimento insistentemente citado nasceu nos anos 70, pelas mãos do próprio escritor, e foi denominado de Armorial. Seu principal objetivo foi criar uma arte erudita a partir dos elementos da cultura popular nordestina como literatura de cordel, música, dança e qualquer outra expressão artística. Segundo o palhaço, tudo pode se transformar em armorial: o céu, a dança, a astrologia, a estética, a sexologia e até mesmo (quem diria?) os sobrados e mucambos. O povo torna-se também armorial: o mesmo povo que morou na senzala e ainda lutava contra a ditadura via suas origens se transformando em qualquer coisa erudita para o deleite dos grandes intelectuais.

O palhaço está degolado: o golpe militar de 1964 (representando o exílio e a fome), os dias de repressão de 1968. O ano de 1978 é invocado, na esperança de que talvez traga consigo alguma expectativa e resposta para a pergunta que é esbravejada diversas vezes: “Até quando?”. O palhaço se pergunta o que restou depois disso e onde está o professor Paulo Freire. Mesmo com tantas críticas e ainda que não houvesse perspectivas de melhora tanto para a sociedade quanto para os produtores (que não conseguiam apoio e muito menos investimentos), a luta com o super 8 não foi a luta mais vã como afirma o palhaço ao final do curta. E esteve longe de ser uma luta vã, mas sim uma luta... a seu modo.

11/06/2009

Simplório

Conheci Simplório vagando pelas madrugadas da minha cabeça. A minha impressão é que Simplório é um cara bem... Simples.

Polifonia de si

Estando naquele instante em dois lugares (ao mesmo tempo) em pseudo-observações distantes...

Na janela eu fumava pra não conseguir dormir

Ao outro olhava consequente
Desconhecendo a real realidade:
Como seriam aquelas paragens?
O que havia em tais arrabaldes?

A noite demora a findar,
Há de ter nada por lá.
Pelo ocaso da hora
Só vai me restar ir embora.

É justamente Nada
Que se há de considerar;
Por ser o Demiurgo dos acontecimentos;
Só ele, o Nada, possibilita coisas serem:
Investigações labirínticas
Em um universo só devir.

Doravante,
Devia eu ir,
Devido à hora do devir,
Que já me dera nos limites!
Mas minha máscara não cai

Ou melhor, cai na cara do Eu
Lá em baixo da janela
Que olho o Eu que fuma
Na janela

Um trago; um suspiro...

À rua pela qual passara
O poste no lado oposto
A sombra do mesmo poste
Iluminando o mundo
Fez que me lembrasse
Do vizinho morto;
Do emprego
Da luz das luzes; e da
Deusa da luz: a Celpe;
Meus bigodes já não podem ser os mesmos...

(...?...)

Ao passar pela claridade minh’alma esteve...
Teve... Leve...
Com a alta música que tocava ao longo da rua
Causando-me impressionante impressão
De avistar imensa multidão.

O silêncio projeta ecos dentro de si
Causantes de um assombro-de-poço:
Vazio.
E Si
Dentro de Si
Aonde habita na fumaça?
Na sombra?

A sombra do corpo sob a...
Sombra do poste
Projetada na parede
Aludiu a um Outro perverso:
O desconhecido.

Um e outro, em confronto de sombras,
Conjeturaram as mais ébrias lombras
Acerca da tensão de um confronto
Verbal.

O silêncio mantenedor do mister mistério
Assombrara as sombras etéreas,
Cujas máscaras reluzentes
Caíram uma por sobre a outra
Sem mais saber onde começa uma
E acaba a outra

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* Tela: Metamorfose de Narciso - Salvador Dali.

Entrevista: João Cabral de Melo Neto

Abaixo, alguns trechos de uma entrevista com João Cabral de Melo Neto, concedida em 1986. O poeta dispensa maiores apresentações.

- Por que o senhor tem tanta prevenção contra a subjetividade? Há um conceito mais ou menos generalizado de que a poesia é uma manifestação extremada da subjetividade...

João Cabral: "Há uma diferença. Tenho aversão à subjetividade. Em primeiro lugar, tenho a impressão de que nenhum homem é tão interessante para se dar em espetáculo aos outros permanentemente. Em segundo lugar, tenho a impressão de que a poesia é uma linguagem para a sensibilidade, sobretudo. Uma palavra concreta, portanto, tem mais força poética do que a palavra abstrata. As palavras pedra ou faca ou maçã, palavras concretas, são bem mais fortes, poeticamente, do que tristeza, melancolia ou saudade. Mas é impossível não expressar a subjetividade. Então, a obrigação do poeta é expressar a subjetividade mas não diretamente. Ele não tem que dizer "eu estou triste". Ele tem é que encontrar uma imagem que dê idéia de tristeza ou do estado de espírito - seja ele qual for - por meio de palavras concretas e não simplesmente se confessando na base do "eu estou triste".

(...)

- O senhor diz que a poesia que faz não é para ser amada. Não é porque o senhor não quer ou o senhor gostaria que suas poesias fossem amadas?

João Cabral: "Não gostaria. O escritor corre o grande risco de se baratear. A popularidade é uma coisa terrível, nesse sentido. A popularidade acaba cercando o escritor e o artista de um mundo artificial e um interesse inteiramente artificial. O sujeito acaba fazendo aquilo que sente que o público gosta, em vez de fazer aquilo que acha que deve ser feito. Eu lembro de quando Manuel Bandeira fez oitenta anos. Havia quase manifestações populares, nas homenagens que fizeram a ele. Mas você acha que aquele pessoal algum dia leu Manuel Bandeira?".

- O senhor se considera, então, o quê? Um poeta popular ou um poeta conhecido? O senhor é conhecidíssimo, mas deve achar que só conhecem o nome João Cabral, não a obra ...

João Cabral: "É difícil dizer. O êxito teatral de "Morte e Vida Severina" é que tornou o meu nome conhecido. Mas não creio que minha poesia seja popular".

- O senhor sempre diz que não gosta de fazer poesia dada a emoções porque o que se chama comumente de emoção é algo feito à base de um sentimentalismo fácil e barato. O senhor diz, pelo contrário, que "emoção é outra coisa". Mas nunca ficou exatamente clara a definição que o senhor tem de "emoção". Dá para explicar - de uma vez por todas?

João Cabral: "Minha definição de emoção não é nada de especial. É o que todos chamam de "emoção". O que acontece é que me recuso a explorar essa coisa diretamente. O interesse do poeta não é descrever suas emoções e criar emoções, é criar um objeto - se é poeta, um poema; se é pintor, um quadro - que provoque - emoções no espectador. Mas não explorar nem descrever a própria emoção. Quando digo que sou contra emoção é exatamente neste sentido: o de usar a minha emoção para fazer com ela uma obra, descrevê-Ia primariamente e construir, com ela, um poema".

- Quer dizer, afinal, que o senhor não é exatamente contra a emoção: é contra a exploração da emoção...

João Cabral: "Exatamente! (Faz ar de alívio, como se a charada estivesse resol- vida). Quanto a esse descrever da emoção e da sentimentalidade, a grande maioria da poesia que se escreve no mundo é assim. A obrigação do poeta, repito, é criar um objeto, um poema, que seja capaz de provocar emoção no leitor".

- O que é que o senhor chama de "emoção intelectual"? Já vi o senhor usando esta expressão..:

João Cabral: "Um grande crítico americano uma vez disse o seguinte de uma poetisa americana, Edna Miller: que ele não gostava da poesia que ela fazia porque não tinha interesse intelectual. É nesse sentido que eu digo. Você pode ver perfeitamente quais são os escritores que têm um interesse intelectual e quais são os que não têm. Confesso que o escritor que não tem interesse intelectual não me interessa.

A mim, me interessa enormemente a poesia de Joaquim Cardozo, mas nunca me interessou a poesia de Emílio Moura - de Minas Gerais. Eu sinto que não tinha interesse intelectual. Não só a poesia de Emílio Moura, mas a grande maioria dos poetas brasileiros. Aliás, dos poetas brasileiros, não, mas do que se chama no mundo todo de poesia. Um homem de mediana inteligência não vê interesse intelectual naquilo. Tenho a impressão de que pode ser um defeito meu. Mas confesso. A atividade intelectual é uma coisa que seduz. Vivo para ela. Quando leio um poeta que só é capaz de provocar essas emoções correntes, como saudade, melancolia ou tristeza, essa coisa não me interessa. Ora, se tenho minhas emoções, para que vou buscar emoções semelhantes numa outra coisa?".

- Quando o senhor se auto-intitula um "poeta artificial", o senhor se refere ao trabalho quase artesanal que tem com a poesia?

João Cabral: "Não apenas. Os assuntos que uso na poesia são "tirados pelos cabelos", como se diz. Fiz um poema sobre o ato de catar feijão. Você não imagina Alfonso de Guimarães, o pai, grande simbolista, fazendo um poema sobre o ato de catar feijão..."

O resultado poético do trabalho do senhor é obviamente sofisticado, sob o ponto de vista intelectual. Isso contradiz a intenção de fazer uma coisa simples? A que é que o senhor atribui esta defasagem entre a intenção de fazer uma coisa simples e o resultado - que é indiscutivelmente sofisticado?

João Cabral: "A coisa simples que quero não é fazer uma coisa boboca. O simples que almejo é chegar a uma forma que os outros entendam. Consigo raramente. e difícil traduzir as coisas de que falo de uma maneira acessível a todo mundo. Minha luta é esta: tentar botar uma coisa mais complexa numa linguagem mais simples possível. Confesso que geralmente eu fracasso".

"Minha luta é tentar botar coisas complexas numa linguagem simples.
Geralmente, fracasso"

04/06/2009

O olhar de D. Teresa

"Estas provas de distinção eram sempre acompanhadas de graciosas mensagens, que lisonjeavam o amor-próprio dos nobres senhores. Escusado talvez fora dizer que semelhante distinção a mereciam só aqueles que no concelho, por seu voto ou opiniões, se haviam mostrado firmes na causa de mãe contra o filho.

Para aqueles que, como Gonçalo Mendes, se tinham mostrado parciais do infante, apenas lançava a rainha um olhar rápido, em que se misturava a cólera e ao mesmo tempo o desprezo, como se previsse já a hora do triunfo e, por conseqüência, do castigo.

D. Teresa, que desde a partida de seu filho se mostrara triste, abatida e irresoluta, parecia nesta noite reassumir toda a sua antiga energia. No seu rosto, banhado de uma alegria algum tanto forçada, conhecia-se-lhe o desejo de que lhe cressem o ânimo tranqüilo ao aproximar da procela.

Dir-se-ia, até, que intentava fazer sobressair a sua formosura, que os anos, os cuidados do governo e os trabalhos das longas guerras que sustentara contra D. Urraca, e depois contra o imperador, tinham assaz desbotado, mas que ainda faziam realçar os ricos trajos que naquele dia vestira."


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* Pedaço de o Bobo, do português Alexandre Herculano.

01/06/2009

Guernica - o vídeo



Apesar de não ter gostado da trilha do vídeo Guernica, criado por Marcelo Ricardo Ortiz (sugiro, inclusive, que tirem o áudio do vídeo, e escolham outras músicas que vocês desejarem, pelo bem do espírito!), as imagens são muito boas.

Um passeio por dentro da arte da pintura.

Aproveita aí, Legal!

Crônica aos 42 anos do Sgt. Pepper's



O dilema da pauta em “Um Dia na Vida”

Uma multidão de sites e blogs povoa minha pasta de favoritos. Some-se mais uma miríade de acontecimentos do cotidiano que preenchem os espaços estriados dos jornais espalhados pelo chão. Abro-os, a pasta e os jornais, e não sei onde ir, o que ler, o que escrever. Tudo me desinteressa e nada parece relevante.

Diante de mim o dilema da pauta e a indiferença que me faz olhar para o lado oposto. Cegar-me de fatos, pular pra dentro do abismo que, qual boca sedenta, devora anseios, relevando anelos outros - olhar para os lados não é mero descaso social, alienação política, ou outro qualquer clichê dos politicamente corretos. É compromisso com outras faces da realidade, que é multipla.

Penso onde estará o avião que, saindo do Rio rumo à Paris, sumiu dos radares. 228 pessoas à bordo, e não há, ainda, notícias disto que, talvez, seja mais uma tragédia aérea.

Por instantes passam-me pelos miolos as sedes da Copa de 2014 anunciadas ontem pela Fifa, e da festa que tomou conta das ruas de Salvador. O povo não perde uma chance mínima de festejar. E quem dirá que o povo está errado? Os graves dirão que o povo é besta, alienado, e outros adjetivos. Podem prosseguir dizendo, com todo o amargor. O povo continuará a festejar - com toda sua indiferença de natureza ante os moralismos de convenção.

Eu li as notícias hoje, oh amig@s, sobre… Apesar de serem tristes as notícias… Eu tive que rir… Eu vi a fotograf… Ele estourou os miolos num… Não viu que o sinal havia fechad…

Os 42 anos de lançamento do álbúm Sgt. Pepper’s, completos hoje, pareceu-me que renderia um bom post para uma segunda-feira calma e trágica, como todos as feiras dos dias de semana.

Sim. Acordei, levantei da cama, passei o pente entre os cabelos, tomei um café e percebi que estava atrasado para meu encontro com os jornais… Não passei os pés ante pés pelas escadas, como recomenda, em seu manual, Cortázar. Não há escadas por aqui.

Saudei-os - como de praxe. Reproduzi-os para meus compatriotas - como de praxe. Passeei pelos ardores de sabores doces da bebida dos deuses - fora de praxe. Antigos impérios voltaram miúdos e bem pouco amiúdes na memória, que turva, foi parar nos São Joões do século XII - nos tempos de Afonso, o VI - absorvendo um pouco da índole inquieta dos nobres de outrora, de além-mar.

E se, por vezes, parece que me falta razão ou discrição, sobra-me anseios, desejos - e mais. Um dia pode ser decisivo na vida dos ávidos por vida. Embora para os tediosos seja apenas mais um… Felizes os que, como Borges, não querem ter razão, porque todos a tem ou ninguém a tem.

E eu ainda tenho metade de “Um Dia na Vida”, mais a noite. Pretendo fazer a diferença pra mim mesmo, como ensina as linhas de Gautier:
se não agarrasse com unhas e dentes tal ocasião, provavelmente nunca lhe ocorreria outra semelhante.”
E se Platão me expulsa de sua República,
Dou de ombros sem ordem pudica,
Sem sol nas faces da ponte,
Cujo arrebol de horizonte
Me sirva de explicação pro crime
De fazer uma estrofe que ainda rime,
Em pleno século sem luz,
E me re-coloque dentro da secular e cotidiana trama.

E, a vocês também desejo bons dias e ótima semana.