10/08/2008

Nas entranhas da Estupidez

Do alto das montanhas assisto paraperplexamente
A um jogo de vai-não-vem estupidamente
mesquinho.

É mergulhando em minha taça de vinho
Que busco discernimento: sozinho.
Sem pretender entendimento
Observo olhos dissociados de bocas:
Um chora enquanto o outro sorri
- Forçado.

Como quebrar esse doloroso cadeado?
Como martelar tal rancoroso orgulho?
Como destruir esse Ídolo-nojo que nos destrói?

Vês passar a passos lentos e ardilosos
A caminhar silentes e impiedosos
Os dejetos repugnosos desses seres
Asquerosos e putrefactos,
Com seus dentesafiados e podres,
Escorrendo seus ranhos por sob
Seus negros e milhares
De olhos de cancros e enxofres? ...

Sentado na arquibancada eu assisto impaciente
A Ventura da Estupidez, que vence
Com máscaras discretamente luminosas,
A prova dos fatos: mas..., que fatos?
Não há fatos. Há idéia de fatos.

Absorto observo a autodestruição carcomendo
Sonhos.
Dos mais belos aos mais torpes:
Como um cão devorando restos de um coração
Encolhido de frio na relva de uma praça
Desértica e escura.

As mentes se digladiam na Arena do Imaginário:
Apegam-se às pueris verdades;
Convertem mentiras em fatos;
Ressoam trombetas como se fossem harpas;
Ardilosamente se fazem tímpanos
Quando não passam de flautas...
É assim que age a Estupidez:
Como um maestro que rege A última música.

A Idiotia, prima-irmã da Estupidez,
Paira sublime nesta desarmonia.
Intervém com seus lampejos nos desejos,
Nos quereres mais impetuosos,
E silencia qualquer grandeza.

- E a estupidez, peçonha da alma, sorri!
“Vamos, meus amigos! Destruam-se enquanto mastigo pipocas!”

Assim se concretiza um fim etéreo:
Um fim sem fatos, que de fato finda.

- E a estupidez, peçonha da alma, sorri!
“Sorria: você está sendo enganado!”

Com ardil, o imaginário age:
Elucubrando a mais vil imagem.

E machuca, e dói, e corrói pelas entranhas
As estranhas Mentiras que cremos Verdade.

Um comentário:

Karol disse...

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."
Fernando Pessoa

Mentiras são sempre perigosas,principalmente as mais convenientes...mas elas sempre existem...não há quem não saiba mas sempre há quem negue.

:)