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Pensando bem agora, reconciliado com minha memória, recordo-me de uma outra obra de arte ainda mais intrigante. Eu a vi há alguns anos atrás, quando estava visitando parentes na cidade de São Paulo. Não me lembro o nome do lugar, mas era uma pequena galeria de arte.
A obra era uma instalação. O título não me recordo também, mas era algo do tipo: "As crianças e o espaço." Fui ver a instalação à convite de uma amiga, artista plástica pouco famosa.
Não consigo descrever o assombro que tomou conta de mim quando me deparei com a instalação. Um misto de pavor, excitação e desinteresse. Curiosa sensação...
Mas, vamos à instalação.
A entrada da galeria era uma porta bastante discreta. Dentro, as luzes eram poucas, e vinham do chão. Passei por uma saleta de entrada, onde havia um livro de assinaturas. Exitei, depois assinei e entrei na sala principal.
A primeira imagem foi assustadora. Dezenas de crianças penduradas no teto e pregadas na parede. Umas choravam, gritando alto que queria ver suas mães; outras gostariam de ir ao banheiro.
O teto tinha um papel de parede que reproduzia as nuvens de algum céu qualquer.
Como estavam pregadas e penduradas, faziam suas necessidades ali mesmo. Todas estavam vestidas com roupas iguais, como fardas de uma escola.
Fui olhando o rosto daquelas crianças, umas rosadas, outras mais bronzeadas; algumas com um semblante de pavor, outras calmamente sorriam.
As da primeira fileira, estavam penduradas por um fino cabo de aço preso à cintura - como um lustre de lâmpadas - e pareciam se divertir com a aparente ausência de gravidade.
As da segunda fileira estavam amarradas pelos pés, e tinham um semblante mais apovorado que as da terceira fileira, que estavam penduradas pelos braços, e chacoalhavam as pernas, aparentemente irritadas com aquela situação.
As da quarta fileira, não me recordo bem, mas acho que estavam penduradas por um pé e uma mão - como se fizessem aquele passo de ginástica chamado "estrelinha". Suas faces eram de resignação, enfezadas como crianças abandonadas.
Elas todas estavam a cerca de 4 metros do chão.
Fui andando por baixo daquelas crianças até a última fileira, que deveria ser a décima segunda. Era, digamos, o "fundão" da sala. Essas do fundão não estavam penduradas, mas pregadas na parede do fundo. Umas de lado, outras de cabeça para baixo, outras de frente, braços e pernas abertas, como uma estrela.
Sorriam dos outros. Ou de si mesmas. Talvez sorrissem de mim - o certo é que sorriam, seja lá do que for, e olhavam para mim.
Bem, logo depois eu fui embora. Olhei meu nome assinado naquele livro. Sai pela mesma porta que entrei, acendi um cigarro e fui tentar ver um Van Gogh no Masp.
3 comentários:
só pra ficar claro que eu sou uma boa leitora.
depois comento direito,minha mãe devoradora de almas,sabe...
:)
porra, assombroso...
fantasticamente exitante,apavorante e provável uma exposição desse "nipe".
Eram crianças mesmo?
MOTHILIN
(outra palavra bonita, né!?)
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