O dilema da pauta em “Um Dia na Vida”
Uma multidão de sites e blogs povoa minha pasta de favoritos. Some-se mais uma miríade de acontecimentos do cotidiano que preenchem os espaços estriados dos jornais espalhados pelo chão. Abro-os, a pasta e os jornais, e não sei onde ir, o que ler, o que escrever. Tudo me desinteressa e nada parece relevante.
Diante de mim o dilema da pauta e a indiferença que me faz olhar para o lado oposto. Cegar-me de fatos, pular pra dentro do abismo que, qual boca sedenta, devora anseios, relevando anelos outros - olhar para os lados não é mero descaso social, alienação política, ou outro qualquer clichê dos politicamente corretos. É compromisso com outras faces da realidade, que é multipla.
Penso onde estará o avião que, saindo do Rio rumo à Paris, sumiu dos radares. 228 pessoas à bordo, e não há, ainda, notícias disto que, talvez, seja mais uma tragédia aérea.
Por instantes passam-me pelos miolos as sedes da Copa de 2014 anunciadas ontem pela Fifa, e da festa que tomou conta das ruas de Salvador. O povo não perde uma chance mínima de festejar. E quem dirá que o povo está errado? Os graves dirão que o povo é besta, alienado, e outros adjetivos. Podem prosseguir dizendo, com todo o amargor. O povo continuará a festejar - com toda sua indiferença de natureza ante os moralismos de convenção.
Eu li as notícias hoje, oh amig@s, sobre… Apesar de serem tristes as notícias… Eu tive que rir… Eu vi a fotograf… Ele estourou os miolos num… Não viu que o sinal havia fechad…
Os 42 anos de lançamento do álbúm Sgt. Pepper’s, completos hoje, pareceu-me que renderia um bom post para uma segunda-feira calma e trágica, como todos as feiras dos dias de semana.
Sim. Acordei, levantei da cama, passei o pente entre os cabelos, tomei um café e percebi que estava atrasado para meu encontro com os jornais… Não passei os pés ante pés pelas escadas, como recomenda, em seu manual, Cortázar. Não há escadas por aqui.
Saudei-os - como de praxe. Reproduzi-os para meus compatriotas - como de praxe. Passeei pelos ardores de sabores doces da bebida dos deuses - fora de praxe. Antigos impérios voltaram miúdos e bem pouco amiúdes na memória, que turva, foi parar nos São Joões do século XII - nos tempos de Afonso, o VI - absorvendo um pouco da índole inquieta dos nobres de outrora, de além-mar.
E se, por vezes, parece que me falta razão ou discrição, sobra-me anseios, desejos - e mais. Um dia pode ser decisivo na vida dos ávidos por vida. Embora para os tediosos seja apenas mais um… Felizes os que, como Borges, não querem ter razão, porque todos a tem ou ninguém a tem.
E eu ainda tenho metade de “Um Dia na Vida”, mais a noite. Pretendo fazer a diferença pra mim mesmo, como ensina as linhas de Gautier:
“se não agarrasse com unhas e dentes tal ocasião, provavelmente nunca lhe ocorreria outra semelhante.”
E se Platão me expulsa de sua República,
Dou de ombros sem ordem pudica,
Sem sol nas faces da ponte,
Cujo arrebol de horizonte
Me sirva de explicação pro crime
De fazer uma estrofe que ainda rime,
Em pleno século sem luz,
E me re-coloque dentro da secular e cotidiana trama.
Sem sol nas faces da ponte,
Cujo arrebol de horizonte
Me sirva de explicação pro crime
De fazer uma estrofe que ainda rime,
Em pleno século sem luz,
E me re-coloque dentro da secular e cotidiana trama.
E, a vocês também desejo bons dias e ótima semana.
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