04/06/2009

O olhar de D. Teresa

"Estas provas de distinção eram sempre acompanhadas de graciosas mensagens, que lisonjeavam o amor-próprio dos nobres senhores. Escusado talvez fora dizer que semelhante distinção a mereciam só aqueles que no concelho, por seu voto ou opiniões, se haviam mostrado firmes na causa de mãe contra o filho.

Para aqueles que, como Gonçalo Mendes, se tinham mostrado parciais do infante, apenas lançava a rainha um olhar rápido, em que se misturava a cólera e ao mesmo tempo o desprezo, como se previsse já a hora do triunfo e, por conseqüência, do castigo.

D. Teresa, que desde a partida de seu filho se mostrara triste, abatida e irresoluta, parecia nesta noite reassumir toda a sua antiga energia. No seu rosto, banhado de uma alegria algum tanto forçada, conhecia-se-lhe o desejo de que lhe cressem o ânimo tranqüilo ao aproximar da procela.

Dir-se-ia, até, que intentava fazer sobressair a sua formosura, que os anos, os cuidados do governo e os trabalhos das longas guerras que sustentara contra D. Urraca, e depois contra o imperador, tinham assaz desbotado, mas que ainda faziam realçar os ricos trajos que naquele dia vestira."


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* Pedaço de o Bobo, do português Alexandre Herculano.

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