Artista cuja existência foi permeada por episódios trágicos, sua obra é marcada pela expressividade soberana de uma arte sagaz sob uma estética surrealista.
Frida revela em suas telas o grito surdo de sua dor ante as adversidades de sua vida e seus descaminhos amorosos ao lado do muralista Diego Rivera.
Frida abre as portas de seus traumas ao público, expondo seu débil corpo em representações profundas e chocantes.
Sua obra e vida nos permite olhares diversos.
Nascida em meio à Revolução Mexicana, com raízes em dois universos distintos - filha de um judeu austro-húngaro e de uma descendente indígena mexicana -, Frida revela em sua obra condições históricas conturbadas, refinamento estético e um misticismo marcado pela sua relação com a morte e com a dor.
Frida foi uma mulher partida ao meio, fraturada, rasgada, fragmentada pela sua conflituosa existência. No entanto, resistente e surpreendente.
Contemplar sua obra é uma zona de atritos: difícil não sofrer efeitos estético-político-filosóficos ao observar suas telas.
Um olhar estético possível sobre sua arte nos remete à análise do filósofo, historiador e epistemólogo francês Michel Foucault, do quadro de René Magrite, Isto não é um Cachimbo.
O texto de Foucault (cujo título é o mesmo da tela de Magrite) analisa o uso conjugado da palavra e da imagem. É como um caligrama (textos cujos caracteres compõem uma figura relacionada com a mensagem que se quer expressar), onde a palavra escrita reforça a imagem e a imagem reforça a palavra escrita em uma espécie de exercício de tautologia, no qual imagem e palavra reforçam um mesmo conceito.
Esta pintura marca um grito de libertação de Frida, assolada pela dor do adultério de seu marido com sua irmã, Cristina. Ao negar-se os atributos femininos que Rivera tanto apreciava (as vestes tehuanas e seus longos cabelos), ela se afirma enquanto uma pessoa livre. Seus cabelos espalhados pelo chão são um retrato da desordem de sua própria alma, picotada pela dor de ver sua irmã e seu marido juntos.
A misteriosa imagem de Frida nesta tela, reforçada pelo mistério das palavras é inspiração em estado bruto; é a expressão do intangível e o aval para um olhar multiplamente agregador de sentidos, o que confere à sua obra uma condição ontologicamente de Arte.
A obra de Frida é um convite ao pensamento. Sua verve inebriante é transmitida em calafrios aos olhares que vislumbram suas telas.
Frida não foi só uma artista, ou uma mulher. Foi um acontecimento à parte no século XX. Um meio-dia e um profundo esgar da alma.
Caso queiram ler o interessante texto de Rachel Sztajnberg sobre Frida Kahlo, cliquem aqui.
Sugestões de leitura:
- Frida Kahlo, la pintora y el Mito, de Teresa del Conde;
- O diário de Frida Kahlo: Um Auto-Retrato Íntimo, de Frida Kahlo;
- Isto não é um Cachimbo, Michel Foucault.
2 comentários:
Às vezes, hesitar em repetir: meu amigo tem umas linhas tão bem traçadas que dá gosto!!!
Deixa eu dizer umas coisas, André?!?
Estas "crônicas de ônibus" são de uma audeza da sensibilidade que me deixam comovida e inquieta (porque os textos são socos no estômago! mas são poéticos...),
Quando 'cê escreve despretensiosamente sobre pintura, faz outra arte, distinta e diversa daquela que comenta,
Quando o que sai de tua cabeça (permita-me...) caótica, inquieta e livre, é um poema, então, a gente entende que o verso é conseqüência de um "pensar poético"...
Teus olhos enxergam fundo. Eu gosto de ler o que você escreve...
Adoooooorei... solta aquelas coisas boas tuas tooooodas AQUI!!!
Xêro... Lú
Foi um prazer encontrar seu blog.
Obrigada pelas pinturas e informações sobre Frida Kahlo.
Até.
Postar um comentário