09/04/2008

Picasso: uma dinamite na arte do século XX

Hoje (08) fazem 35 anos da morte do pintor espanhol Pablo Picasso. Nascido em 25 de outubro de 1881, veio a falecer em 8 de abril de 1973.

Clique aqui se quiserem ler uma breve biografia de Picasso.

Antes de inaugurar o modelo estético cubista com sua tela “As senhoritas de Avignon”, Pablo Picasso já havia produzido obras significativas (não apenas pinturas, como também esculturas) em um período que foi denominado de fase azul e fase rosa, nas quais utilizava-se de elementos maneiristas, além da influência visível da estética das cores de Van Gogh.

No ano de 1907, Picasso pintou uma das telas mais inovadores da época, intitulada Demoiselles d’Avignon –- As Senhoritas de Avignon. A composição desta tela não apresenta unidade, seus personagens não trazem relevos definidos, é composta de linhas, ângulos e planos imbricados, em uma palavra, é torpe (no bom sentido!).

“Uma criança pintaria este quadro!” Disse-me alguém, certa vez, argumentando que as formas não são bem delineadas e que as figuras que compõem a obra estão em situações de perspectiva equivocada. “Há algo errado neste quadro…”

Ora, nunca ninguém me disse isso,– ainda bem! Sim: há algo errado neste quadro. E, isto é ótimo!

A intenção de Picasso, talvez, tenha sido justamente romper com certos padrões fixados na arte da pintura, até então. Mas, essa ruptura não se fez sob a égide do desprezo ao que veio antes, pelo contrário, podemos dizer que Picasso produziu arte em padrões clássicos: pintura, escultura, gravura, cerâmica.

Seria, por outro lado, muita ingenuidade de nossa parte, acreditar que a “ruptura” provocada por Picasso, a partir desta tela, não teria tido nenhum precedente. Décadas antes, Paul Cézanne e Vincent Van Gogh (se recuarmos mais, Delacroix e Goya) já haviam provocado algum tipo de “mal-estar” nos padrões estéticos vigentes.

Os valores estéticos que Picasso agrega na tela (As Senhoritas de Avignon) são fundamentais para tudo o que se produziu nas artes plásticas posteriormente.

É com esta obra que Picasso inaugura o que se convencionou chamar de Cubismo. (clique aqui para saber mais sobre o cubismo)

Imagine uma cabeça humana. As cabeças humanas são circulares, com as orelhas estando dispostas uma de cada lado da cabeça (isso dentro dos padrões da normalidade humana…). Agora suponha que se abra esta cabeça como uma folha de papel, depositando-a sobre uma superfície horizontal. Estranhamente as orelhas e demais partes não estarão mais opostas, mas paralelas.

Essa é a lógica básica do cubismo, assim como eu o compreendo.

A partir da dissolução do grupo cubista, no ano de 1914 (quando do início da 1º Grande Guerra), Picasso iniciará uma fase de eternas transformações. Sua arte provocará travessias em diversos planos. Sua obra “Guernica” é um exemplo de aguda criação crítica.

Nesta obra, Picasso produz imagens atrozes dos efeitos torpes do bombardeio alemão ao pequeno vilarejo de Guernica, no país Basco, Espanha, quando da Guerra Civil espanhola, na década de 1930.

Na tela acima, “Mulher chorando com lenço” (também de 1937), Picasso retoma parte dos esboços feitos para Guernica, ampliando os traços (feitos à margem inferior esquerda) de uma mãe que carrega seu filho morto nos braços. Envolta em luto e dor, a mulher agora está sozinha.

O rosto fragmentado, distorcido e atormentado é realçado pelas cores berrantes. “As cores estão para um pintor assim como os conceitos estão para os filósofos“, diria Guilles Deleuze.

Curioso (se olharmos mais atentamente) é que os dedos da mulher tornam-se o próprio lenço, sendo mordido desesperadamente pela mãe, numa simbiose que representa (segundo uma das interpretações possíveis) a tristeza, a dor da perda de um ente querido em um mundo atroz e cruel.

No dizer de Alberto Beuttenmüller:

“Picasso é o artista do devir e o que está passando, a um só tempo, do hoje e do arcaico, o artista que mudou tudo para que tudo restasse no mesmo lugar. O artista veloz que se permite ser do século XX e de todos os séculos, sem deixar de ser do agora. Picasso foi um movimento que se fez pintura, mais que todas as escolas do século XX; foi e é o pintor-tempo.”

Para visitar o site do Museu Picasso de Barcelona, clique aqui.

Para visitar o site do Museu Picasso de Paris, clique aqui.

Para os interessados em estudar mais fundo a relação entre Memória, Imagem e Educação, leiam o artigo “Imagens e Memória na (re)construção do conhecimento", de Áurea Maria Guimarães.

Um comentário:

Anônimo disse...

eu não tinha percebido que o lenço se confundia com os dedos da mulher...
São ótimas as sua análises das obras. :)