23/04/2008

O... e ... Vôo de Alice



QUANDO ÀS 2 HORAS, 14 minutos e 30 segundos da madrugada, a faustosa e flutuante Alice – alvo constante da inveja de infelizes donzelas que habitavam o Castelo Urb, transmutada que estava em muriçoca – voando entrou pela janela de Tuta, não rumou outro sentido senão seu ouvido... A cada bater de asas, a cada instante, via-o maior e a cada milímetro que se aproximava mais acelerado batia o seu nervoso e ardente coração... Ela desejava sussurrar ao seu ouvido, passar as mãos em seus ombros, sentir o calor de sua pele e abraçá-lo, beijá-lo, amá-lo!

No entanto, eis que Alice – que há pouco se encontrava na serenidade de sua Torre no Castelo Urb a pentear suas melífluas madeixas castanhas que escorriam, agora, por sobre a estranha agulha que lhe culminava a face, ainda a se olhou... olhos nos olhos, num micronésimo de segundo que teve consigo mesma (e que logo voltaria a ter), quando de repente olhou-se novamente no espelho e deu-se por si como uma mosquita horrenda!. aterrorizou-se com aquele monstruoso reflexo que vislumbrou e saiu do Castelo ensandecida sem nem saber como nem porque, só voou... – lembra-se num estalar de dedos da terrível imagem produzida no espelho por sua nova forma. Ela, que no instante mágico lembra-se muriçoca, desvia o rumo com medo de assustar o seu grande amor.

Seguindo, então, o lado errado ou certo do vôo, passa em frente aos distraídos olhos de Tuta – Alice, que vivia a natureza das muriçocas e entrara por acaso, com outras tantas, na primeira janela que encontrou quando uma tempestade começara a despencar do céu, não esperava vê-lo naquele momento tão singular e ultra-humano que experimentava; quando o viu, a paixão domou-a com suas turbas apocalípticas e lha verteu em direção ao ouvido esquerdo de seu atemporal amor... Entretanto, resignando-se repentinamente, temerosa de chocar o homem que um dia a faria a mulher (ou mosquita?) mais feliz do mundo, mudou a direção do vôo – que automaticamente largou seu violão e todos os planos que lhe permeavam a mente às 2 horas 14 minutos e 32 segundos e bateu palma para Alice que caiu morta.

2 comentários:

Luciana Cavalcanti disse...

Alice morava num Castelo chamado Urb...
fica a questão: Urbe et Orbe...
ou URB, ligada à PCR...? rsrsrs
Sério: muriçoca apaixonada! :) que texto mais intrigante...!

Amanda disse...

O fato de todos esses pensamentos terem acontecido em 2 segundos mudou todo o rumo da história, que ficou mais convidativa que qualquer metamorfose que o Kafka tenha tentado relatar. Bjo, André! ;*